sexta-feira, setembro 27, 2002
LIRISMO + ARTE = POESIA
Diante do mundo, qual é a função do poeta? Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida, mesmo porquê o ser do poeta é representativo. Se o poeta é um fingidor, como nos diz Fernando Pessoa, certamente não o é por mero prazer de fingir, mas porque, diante do mundo, o poeta não expressa apenas a sua dor, ou a sua alegria, mas a de toda a humanidade. O poeta se isola do mundo por sua verdade, uma verdade que é des-veladora, e se completa naqueles que encontram neles próprios a verdade de sua poesia. Ednardo, compositor e poeta, afirma numa música sua: “Está escrito/ no grande livro da sabedoria popular/ que primeiro se deve viver/ que é pra depois poetar”. De fato, a vida é o substrato da poesia. É a partir da vida, e somente dela, que pode a autêntica poesia surgir. O ser humano em sua vida cotidiana, no trabalho, nas relações com os outros, etc, é somente metade de si mesmo. A sua outra metade, por vezes perdida, se encontra na expressão dada pela poesia. Em verdade, todo ser humano deveria ser poeta o bastante para conseguir expressar a sua vida. Infelizmente não é assim e cabe a poucos indivíduos o dever e o poder de expressar toda uma nação, toda uma raça, toda a humanidade. Mas sendo assim, quem em nossa cidade, em São Luis do Maranhão, atualmente, faz ou pretende fazer as vezes do poeta? Quais dos poetas divulgados e reconhecidos em nossa cidade podem ser chamados realmente poetas?
O poeta é aquele que nomeando diz, que representa a própria beleza do Universo. Logo, não pode ser considerado poeta alguém imposto. Em São Luis, os “poetas” são impostos. Vemos isso a partir do modelo de poesia que se têm hoje em nossa cidade. Antes de tudo, não deveria haver um modelo. Poesia, como já dissemos, é expressão, e se esta for acomodada dentro de um modelo perderá o seu conteúdo, o seu ser. A poesia atual (sim, pois este é um problema contemporâneo e não só da nossa Ilha) se transformou num mero jogo de palavras: e como jogo de palavras se aproxima mais da lógica que do sentido poético de expressar um mundo. Acreditem, os “poetas” ludovicenses possuem um “método” infalível de fazer “poesia”. E aqueles que não possuem esta fórmula mágica, esse teorema enigmático da palavra, não podem , de forma alguma, ser “poetas”(mal sabem estes que há mais poesia na vida que na técnica – e, aliás, que técnica é essa que eles têm?)
Tanto o pensamento quanto a forma existem no tempo poético. No entanto, o pensamento é sem dúvida anterior. Ao se desvalorizar o pensamento, ao deixar de lado o poder de revelação do poeta, ao colocar o peso maior na forma dos versos e da palavra e não na sua idéia, ao se fazer tudo isso, mata-se a poesia. Viver apoiado na tipografia e elevar essa como um Olimpo da poesia é desmerecer o pensamento humano. Ao contrário, é preciso ter fé na idéia, no pensar. Pode-se dizer que os seres humanos estão por demais cansados da especulação, das questões metafísicas. Por vivermos na época do homem-massa isto é, de fato, verificável. No entanto, não podemos dizer que a humanidade irá abandonar essas questões. Diante da angústia do mundo, diante de sua própria coisificação, o indivíduo se percebe necessitado. É necessário encontrar um sentido pro mundo, um sentido pra vida. O poeta, assim como o filósofo, propõe a sua verdade, pois é isso que o mundo precisa – verdade (alétheia) e não opinião (doxa). O poeta precisa se manifestar, precisa falar, e isto é lógos. O mundo inteiro se cala diante das questões primeiras, mas não o poeta, não o filósofo. Estes falam, revelam, des-velam, buscam realmente elucidar a realidade. E este e-lucidar, este iluminar intensamente, visa a um conhecimento superficial, ou seja, um conhecimento que emerge do pântano obscuro e maleável da realidade a ponto de atingir e iluminar a superfície. E é isso que os nossos “poetas” (ou “poetaços”, como bem diz Elvis Amsterdã) não o fazem. Nauro Machado ainda nos salva. Celso Borges, em alguns momentos, procura. Roberto Kenard, o camaleão no espelho, versa. Quem mais? Onde está a nossa re-conhecida (quem a conheceu?) poesia? Tentativas existem, sem dúvida, mas a ditadura da a-poética (ou da “aporía”?) não nos permite o contato. São Luis não é uma cidade de poesia. São Luis é uma cidade de revoltas mal-resolvidas.
Marcos Ramon
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"'Em que está trabalhando?" perguntaram ao sr. K. Ele respondeu: 'Tenho muito o que fazer, preparo meu próximo erro'."
( O esforço dos melhores/Bertolt Brecht)
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quinta-feira, setembro 26, 2002
o Un iverso é integridade do mundo... viver é ocupar-se deste.
mr
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terça-feira, setembro 24, 2002
o vento corre... o tempo (idem)
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o mundo inteiro (o tempo todo - o tempo intenso) olha na direção desta luz que, vazia, ilumina a vida que nos permeia.
marcos ramon
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